06 dezembro 2021

Olho do furacão

Pobre Augusto.

Abasteceu o carro depois de ter marcado o hotel. Comprou comida pra viagem depois de ter combinado a chegada. Colocou a bagagem na mala depois de ter conferido a previsão do tempo. Atravessou o estado depois de ter previsto tudo. Augusto só não podia contar com os fatores humanos. Tudo falhou e nada deu certo. Só resta agora respirar. Admira a paisagem, bebe água e deixa o amanhã chegar. Você não está só no mundo. Contempla a plenitude e compreende o outro.

Nobre Augusto.

13 novembro 2021

és culta

Era de muitas palavras. Queria aprender enquanto ensinava coisas que ainda não sabia.
Olhei nos olhos. Pus as mãos em seus ombros. Respirei e falei pra ela com o olhar:
"Para um pouco minha pequena
Na escuta é que se aprende
És culta e a beleza se encontra aí
Ou vindo ao seu próximo de coração aberto"
Ouvindo com a alma, ela levou as palavras
Elevou a calma

21 julho 2021

há tensão

Não encontrei. Eu tentei procurar ela.
Sumiu depois que resolvi voltar com o carro.
Ela tinha ido pro fundo do estacionamento.
Ouvi essa moça chorando quando saiu do banco.
Saquei meu dinheiro e saí preocupado com o trânsito.
Entrei na agência preocupado com a fila.
Estacionei preocupado com meu tempo.

17 julho 2021

Em vão

Dormi tarde. Acordei cedo. Ligeiramente atrasado, não dormi bem.

Tomei banho antes de deitar, não farei de novo agora.

Olho a cozinha, não vou comer, melhor. Queria ir ao banheiro, mas não vou.

Saí ligeiramente atrasado. Me privei de tudo que era essencial na vida, nada adiantou. Eles não tinham chegado ainda.

07 julho 2021

Diálogos impactantes

[microconto]

Falei pra ele da minha amizade com o Diogo. “Adoro o Diogo. Usa as palavras na hora certa. É silencioso, mas quando diz, é profundo”. Senti que preciso melhorar meus diálogos impactantes. Fui ao meu caderno, rascunhei palavras de alto padrão, frases em norma culta. Não sei, acho que o Diogo fala do coração. Papel e dicionário limitam os anseios mais vívidos.

27 maio 2014

Sem título 2005.1

Ainda que me faltem as palavras
Para falar do meu sentimento antigo
Me terá o próprio sentimento
E não precisarei dizer o que sinto

Por mais que tente precisar meus lamentos
Os signos não o conseguiriam fazê-lo
Cuido para manter minhas alegrias
Minhas virtudes não falo, tenho zelo

Isso que de mim se externa
Não é uma gota que valha
Nesse mar de pensamentos
Que só a chuva apaga

E uma borracha de verdades
Ajuda a podar minha fantasia
Que um lápis solta sem jeito

Cheio de emoções e monotonia

Nós

Meus pequenos,
meus pequenos

Somos nós

Desatemo-nos

Somos laços

Abracemo-nos

Semeadura

Quem começou essa viagem?
Quem será que deu start
E iniciou o giro da engrenagem?

A natureza é morta para alguns olhos
Mas o vento sopra
A terra gira
E as flores nascem

Podem parar tudo e começar de novo
Não do princípio
Mas de onde se perdeu a trilha da semeadura
Basta o brilho de qualquer luz do alto
O olhar à qualquer clichê amado

Lança os pensamentos ao chão
E arremessa sementes ao vento
A terra gira
E as flores crescem

As noites podem ser escuras
As ambições por vezes turvas
Os desejos pálidos ou insanos

Façam silêncio
Respirem

Os dias ainda são quentes
A brisa morna

A terra gira
E as flores... ah... as flores

16 junho 2012

Cá de dentro

Retomando as atividades do dia. Li outro dia que o "O mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão". Daí chego a algumas máximas...


Despertem digitais travadas
deste sono bom da rotina
Deste luxo sem razão
das mesmas manhãs de leite morno e pão


Faz o que tem que fazer
não deixa que se cale a mão
Bloqueia esse acalanto insoso
torna-te seu próprio impávido e colosso


Falo por mim apenas
e não por mais ninguém
A mão que me acorda agora
é a mesma que fechou os olhos outrora


Aproveita a alvorada
lava o rosto, varre a calçada
Que de onde vem o suor de sua luta
É do Sol é vida, terra, semente, flor e fruta

27 setembro 2010

Almas a venda

Recomendo. Não compartilho em nada o jeito como o filme trata a "alma", mas é interessante. O (muito bom) Paul Giamatti se apresenta como ele mesmo no filme, mas dá um nó na cabeça tentando interpretar um personagem e resolve descansar um pouco a alma, deixando ela no Soul Storage (Guarda almas). Só que um problema com tráfico de almas atrapalha mais ainda a história do rapaz.
Vi comentários do tipo "hilariante", "humor negro"... não achei nem uma coisa nem outra. É um filme interessante que tem uma pitada de non sense, temperado com a melancolia e sofrimento do protagonista. Mas não deixa de nos trazer algumas risadas... Grão de bico... rsrs

Sinceridade, faltou um final mais tcham nan nan...