03 fevereiro 2010

O homem, as viagens

Sem querer interferir na sua leitura, mas só pense no tanto que se investe em dinheiro, tempo, inteligência, etc, nos projetos da Nasa, Copas do mundo, guerras... tudo isso enquanto ainda tem gente passando fome no mundo... discurso trivial né? Mais uma pros revolucionários de sofá...

Nesse dia 2 de fevereiro, vi uma apresentação muito interessante do famoso Zé da Mala, personagem ilustre do teatro de rua que se apresenta em ônibus e praças de Salvador, interpretado pelo amigo Gabriel Bandarra. O dito cujo, entre outras conversas, recitou este fantástico e inspirado poema que segue abaixo, de autoria de Carlos Drummond de Andrade. Leia todo... é bom pra se pensar.


O Homem; As Viagens

O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto — é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.

Um comentário:

Anônimo disse...

O poema é maginfico interpretado por zé da mala então.... O cara é fantástico!!!